quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

"No meu tempo..."

É preciso ter cuidado quando usamos a expressão "no meu tempo".

Existe uma regularidade no equívoco de acharmos que certo padrão de comportamento é exclusivo de uma década específica. A maioria dos defeitos da sociedade sempre estiveram presentes, nós é que não tínhamos acuidade perceptiva para notar. Mas frente a certas modas e tecnologias tenho segurança de dizer:

"No meu tempo, sentimento não era guerra por atenção."

Lembro perfeitamente que amores, paixões e sentimentos eram assuntos velados, escritos em diários e cadernos secretos na esperança inútil de que só uma pessoa especial lesse um dia. Quando assuntos do coração eram sussurrados, olhando para todos os lados no sincero resguardo do sentimento mais puro. Eram temas de bilhetes e cartas escondidas que torcíamos para nunca cair em mãos erradas, passados de forma engenhosa pela sala de aula ou no sigilo do correio.

E hoje? Hoje eu vejo uma propagação de carência pedante, implorando condescendência, complacência, apelativa e depreciativa na busca dos "curtir", como se a busca pelo sentimento em si fosse só faixada para uma orgia egocêntrica que mede sua capacidade de ser superior pelo número de "curtir", ao ponto de deixarmos de lado a própria criatividade e paixão pela vida. Ao invés de poemas e desenhos de corações partidos, as pessoas dão "compartilhar" em imagens estapafúrdias com textos pré-prontos, esperando comentários apelativos de apoio vazio e curtição irrefletida.

Nesses assuntos, confesso, prefiro permanecer um conspirador. Não vou fazer um show para massagear o ego alheio. Não compro amor por perseguição cibernética. É engraçado ver pessoas que "paqueram" na internet marcando território, querendo se fazer presente em tudo que é post, comentário e twit. A mim parece mais como um cão mijando em volta de uma árvore do que o velho e bom flerte secreto, com sorrisos distantes e ações significativas. Mais hilário é que, depois da conquista, os "stalkers" apenas sacodem o troféu e somem da presença na internet que tanto faziam questão de assinalar.

No meu tempo, sentimento era coisa séria. Era pra sempre e não se media pela capacidade de marcar o território virtual. A gente sabia o que queria no olhar, no gesto, no sonho ou ilusão. Não era implorar por aprovação. A mim basta estar apaixonado e tudo fica mais bonito, sem que ninguém precise concordar comigo.

Nenhum comentário: